quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Desvio do Rio

Como evitar a contaminação do Rio de Ondas durante o processo de extração do Tálio? Será que a transposição do rio, mudando seu curso seria uma medida aconselhável?

O desvio de um rio não é algo simples, pois implica em deixar a região que antes era banhada pelas águas agora na seca. No caso do Val da Boa Esperança, o trajeto a perder o rio seria a localidade onde os moradores habitam. Eles aceitariam tão fácil uma medida tão extrema?

Para não ficar sem as águas do rio, seria necessário ser feito um canal que ligaria o novo curso aquelas terras e no local a formação de um lago artificial, porém com a continuidade do projeto para a exploração mesmo este lago artificial seria contaminado. Não restaria alternativa a não ser que os moradores saíssem do local, com devida indenização... O que já os moradores da região descartaram, eles não querem sair dali, são terras que estão na família há muito tempo.

De fato os moradores da região não utilizam a água diretamente do Rio de Ondas, existe uma nascente e cerca de 840 metros de encanação levam essas águas às moradias. Essa nascente fica muito próximo a serra o que em caso da exploração e a ação das águas das chuvas (que não podem ser desviadas) levariam os resíduos a nascente.
Mesmo que o beneficiamento do metal seja feito longe do rio o próprio processo de escavação e a característica estática do elemento fariam com que este penetrasse no solo e atingisse o Urucuia que mesmo com o desvio continuaria abastecendo os rios locais. 

A água no processo de extração do Tálio


     O impulso da possível atividade mineradora em Barreiras levanta questões importantes ao se referir a recursos hídricos, tendo em vista o Rio de Ondas e o aquífero Urucuia. Particularmente, a indústria da mineração possui especificidades na utilização e consumo de água que podem provocar modificações na quantidade e qualidade dos recursos hídricos. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH aprovou a Resolução n° 29, cujo art. 2° relaciona os usos e as interferências nos recursos hídricos causados pela mineração e sujeitos à outorga. Dentre eles, citam-se:
  • Derivação ou captação de água superficial ou extração de água subterrânea para consumo final ou insumo do processo produtivo;
  • Lançamento de efluentes em corpos de água;
  • Barramento para decantação e contenção de finos em corpos de água;
  • Barramento para regularização de nível e vazão;
     Várias etapas desenvolvidas durante o processo de extração e beneficiamento do minério interferem diretamente ou indiretamente com o meio ambiente, em particular com os recursos hídricos, provocando modificações na qualidade e/ou quantidade do recurso.
      Para o processo de extração do Tálio, assim como de qualquer outro minério, é necessária a utilização da água, para todas as etapas, desde a perfuração, em que são utilizadas máquinas hidráulicas de perfuração, até o beneficiamento do minério.
     É principalmente nessa etapa de utilização da água em que o Rio de Ondas e o aquífero entram em jogo, visto que os efluentes da extração ficarão expostos no meio ambiente, podendo chegar ao rio, ao aquífero e contaminar o solo. 
     O termo "contaminação" é abordado de forma ampla, sabendo-se que o Tálio, não encontrando-se em sua forma pura, não é capaz de contaminar diretamente o meio. Porém, no dito processo de extração é possível sim que, juntamente com a água, resíduos de Tálio sejam encontrados de maneira a estarem susceptíveis a maiores danos, pois nada há de concreto. A garantia não é certa em nenhum processo extrativo de minérios, e não se pode afirmar que não haja a real pureza do minério em toda a vasta extensão da jazida.
    Qualquer extração de metais perigosos pode trazer riscos, e é importante ressaltar que o processo natural de escoamento da aguá das chuvas e da própria água utilizada na extração afetaria tanto o Rio de Ondas como o Urucuia, devido aos resíduos da extração.
   

Fragmentos do texto retirados de: http://www.smarh.eng.ufmg.br/defesas/1011M.PDF
Por: Letícia Giotti

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vítimas do Tálio

Raul Beiriz

Em fevereiro de 2007, Marina Kovalevsky (mãe) e Yana Kovalevsky (filha), russas de nascimento e moradoras nos Estados Unidos, foram envenenadas em uma viagem que fizeram a Moscou para comemorar o aniversário de 50 anos de um amigo. Exames toxicológicos confirmaram que elas foram envenenadas com tálio – elemento químico inodoro e insípido que pode afetar o fígado, causar hemorragias e até matar. Segundo apurou o FBI, em quem Yana diz não confiar, as duas chegaram a ingerir quantidades pequenas, mas potencialmente letal do metal pesado, sendo então envenenadas – fato que foi confirmado por seus médicos.



Yana Kovalevsky (filha)
A intoxicação foi percebida quando reclamaram de fortes dores no estômago, após a festa de aniversário. Elas sentiram as dores quando visitavam museus, mostras de arte e teatros em Moscou. O diagnóstico inicial foi de intoxicação alimentar, mas na verdade, o tálio já havia começado a invadir o corpo de Yana. As cólicas se intensificaram. Yana teve que ir ao banheiro e caiu. Foram levadas a um hospital americano, recomendado pelo hotel. Elas foram de táxi para uma clínica americana em Moscou. Como sua mãe era médica, Yana pediu sua ajuda, mas ela não conseguiu socorrer a filha, já que seu estado de saúde não era bom. Marina Kovalevsky, que era médica e trabalhava em um hospital em Los Angeles, para onde havia migrado em 1989, já estava na maca.
Em julho daquele ano, ainda em processo de recuperação, Yana Kovalevsky deu uma entrevista ao repórter do Jornal Los Angeles Times, Paul Pringle. Sua aparência assustou o repórter. Usava peruca colorida e uma bengala em tons marrom e bege. Segundo contou, o envenenamento teria provocado os problemas nos cabelos. Tomava remédios por causa de um problema no sistema nervoso, também provocado pela substância. Em uma de suas declarações ao repórter, Yana foi clara: “Ou alguém me queria morta ou me esmagar lentamente”, disse. Segundo contou a Paul Pringle, repórter investigativo com vários prêmios, quando ela e sua mãe chegaram ao hospital, os médicos rapidamente as colocaram em diálise, mas somente vários dias após identificaram o tálio como a fonte de sua agonia. Yana nunca tinha ouvido falar deste metal e revelou que sua mãe não acreditava em intoxicação.



Folder informativo




O “Malvado”

Devido ao seu alto poder de morte, o tálio foi apelidado de “veneno dos venenos”. Seu isótopo radioativo é utilizado em tratamentos médicos nucleares. Atualmente, além da jazida encontrada em Barreiras, apenas a China e o Cazaquistão produzem o minério no mundo.                  




Pois é, o tálio não é brincadeira! Deve-se, portanto, tomar cuidado com seu manuseamento, já que seus compostos são altamente tóxicos. A toxicidade levou para o uso (agora interrompido em alguns países) como veneno de rato. Os efeitos do envenenamento por esse metal pesado são: a perda dos cabelos e danos nos nervos periféricos. O contato com a pele é perigoso e a ventilação adequada deve ser fornecida ao derreter este metal. Há suspeitas de que o tálio é causador de câncer para os humanos.  
            
Fala-se que pode haver contaminação da água, do lençol freático existente que abastece a nossa região. De forma alguma isso pode acontecer. Do jeito que ele existe hoje, não há risco de contaminação por tálio; a forma que ele será extraído sem causar danos ambientais ou às pessoas é que é o grande questionamento.

Dentro do nosso corpo, os íons de tálio “se fazem passar” por potássio – elemento essencial para o organismo. Eles se instalam nas células, cujo funcionamento é prejudicado. Isso ocorre principalmente no sistema nervoso: o resultado é insônia, depressão profunda e desejo de morrer. O tálio também ataca os testículos e o coração, e causa paralisia muscular.                            

Curiosidade: (retirada do site Superinteressante)


O livro da salvação: Como o envenenamento por tálio é muito raro e seus sintomas se confundem com os de outras doenças, é comum que os médicos façam "n" exames e não consigam identificá-lo. Foi isso o que ocorreu com uma menina de 19 meses atendida, em 1977, no hospital Hammersmith de Londres. Por sorte, havia na equipe uma enfermeira que lera o romance O Cavalo Amarelo, de Agatha Christie. O livro menciona que o tálio causa queda de cabelos e a enfermeira, ao notar esse sintoma na criança – que já havia tentado todos os recursos médicos disponíveis no seu Catar natal – chamou a atenção dos médicos. Não deu outra: a menina vinha atacando a ração de tálio que a família usava para acabar com ratos e baratas da casa.

Ser contra é ...fácil?


Recursos Mundiais de Tálio



O tálio é encontrado nos minerais croosita, hutchinsonita e lorandita. Este metal é encontrado também nas piritas, que é um dissulfeto de ferro, e é extraído como subproduto da produção do ácido sulfúrico. Uma outra maneira de obter o elemento é na fundição do chumbo e dos minérios ricos em zinco. 

Os recursos mundiais de tálio contidas em minérios de zinco compreendem no total cerca de 17 milhões de quilogramas, onde a maioria se encontra no Canadá, na Europa e nos Estados Unidos. O manganês nodular, encontrado no leito dos oceanos, também contem tálio, mas a extração é excessivamente cara e ambientalmente destrutiva. Além disso, diversos outros minerais contem tálio entre 16% e 60%, ocorrendo na natureza como complexos de sulfetos ou de selenetos com antimônio, arsênio, cobre, chumbo e prata, mas são raros e não apresentam nenhuma importância comercial como fontes deste metal.



Só há dois produtores importantes atualmente, o Cazaquistão, único exportador, e a China, que passou de exportadora a importadora nos últimos anos.  A China continua, desde 2006, mantendo restrições fiscais para evitar a exportação do tálio, contribuindo para o enxugamento da oferta no mercado mundial. Além do mais a própria demanda interna levou a China a importar quantidades crescentes de tálio. O Cazaquistão é acreditado para ser um dos principais produtores mundiais de tálio refinado. Com um adicional de 630 milhões kg em recursos mundiais de carvão. O teor médio de tálio da crosta da Terra foi estimado em 0,7 parte por milhão.
Os principais importadores de tálio (entre 2007 a 2010) são: a Rússia, 63%, Alemanha, 35%, e Cazaquistão, 2%.